Com fama de difícil e temperamental, a Pinot Noir se tornou uma paixão em todo o mundo.
A Pinot Noir é originária da Borgonha e a sua história se confunde com a história da própria região. Por mais que hoje a casta seja cultivada em várias regiões viníferas do mundo, com uma qualidade excelente, é quase impossível dissociar a imagem da Pinot Noir com o solo único da Borgonha.
Essa uva tão peculiar é tão velha quanto a própria região: já estava lá durante a produção de vinhos pela ocupação romana e foi na Idade Média que ganhou uma atenção maior dos monges cistercienses, que deram início ao estudo de todo o complexo processo da produção do vinho, e em especial, ao plantio da Pinot Noir. Os religiosos estudaram com afinco todo o manejo da uva e mapearam a variação do solo da região, classificando quais os melhores terrenos para se plantar a Pinot Noir e quais características a uva teria para a produção do vinho.
A fama de díficil da Pinot Noir não é à toa. A casta é de delicado plantio, difícil manejo e possui grande sensibilidade às variações climáticas. Talvez a Pinot Noir seja a uva mais difícil de se “domar” em todas as etapas de produção do vinho. Essa uva prefere climas mais frios e secos. podendo gerar vinhos completamente diferentes conforme as características do solo e do clima de cada região. Ela também é muito suscetível a pragas, doenças e fungos por causa da forma de seu cacho, que mantém os bagos muito próximos uns dos outros. Com isso, qualquer umidade entre os bagos do cacho pode causar um grande estrago em toda a videira. Há também o fato de sua pele ser muito fina, o que deixa a uva muito frágil ao calor e propensa a se romper por uma chuva mais forte. Além disso, a casca da Pinot Noir tem baixa concentração de taninos, substância que, entre outras coisas, serve para a proteção do bago contra raios ultravioleta. Por isso, o plantio da Pinot Noir exige muita destreza, conhecimento e tecnologia dos viticultores e dos enólogos que se aventuram com a casta.
Toda essa dificuldade justifica a legião de fãs e apaixonados que a Pinot Noir tem pelo mundo. Uma das vinhas mais complexas do mundo gera os vinhos mais sofisticados e caros do mundo. Ela também é um destaque na região de Champagne para a produção dos espumantes da famosa região. A casca da uva Pinot Noir, além de fina como já apontado, também possui uma baixa concentração de antocianinas, substância que dá cor ao vinho no processo de fermentação, por isso o aspecto visual do vinho de Pinot Noir é sempre claro, ou rosado, mas perfeito para se juntar as Chardonnays ou Pinot Meuniers na produção dos espumantes de Champagne.
Além de ser a rainha tinta da França, a Pinot Noir também é cultivada em vários países e desenvolveu uma personalidade distinta para cada região. Alguns países ganharam fama na produção da uva como a Nova Zelândia, por exemplo, que produz vinhos fantásticos de Pinot Noir na região de Martinborough. Outro país que já tem seu reconhecimento na viticultura da Pinot é o Chile: nosso vizinho sul americano é privilegiado pelo clima fresco e pelos ventos marítimos do Pacífico. Planta-se Pinot Noir também na Argentina, que, apesar de ter um clima mais quente, cultiva bem a Pinot Noir na região de Rio Negro, na Patagônia, garantindo condições climáticas mais frias e secas.
Nos Estados Unidos, a Pinot Noir também tem sua fama. Em 2004, o filme americano Sideways uniu cinéfilos e enófilos em uma narrativa envolvente pelo mundo do vinho. A história conta a viagem de dois amigos que, a pretexto de uma despedida de solteiro, percorrem a parte sul da costa da Califórnia parando em cada vinícola da região. O protagonista do filme ama a uva Pinot Noir, sempre tece elogios por sua complexidade e seus sabores. Porém, o personagem também deixa explícito seu desagrado pela uva Merlot. O filme fez um grande sucesso e o resultado do “efeito Sideways” foi o aumento considerável do consumo da uva Pinot Noir em todo EUA e também a diminuição drástica da demanda da uva Merlot. Infelizmente, alguns produtores foram obrigados a parar a produção da uva Merlot pois esta perdeu o apelo comercial no mercado de vinhos americano por conta de ter sido tão estigmatizada pelo filme. Apesar das consequências da ficção na realidade, a Pinot Noir faz jus à fama em solo californiano, com destaque para a região de Russian River Valley que produz os melhores vinhos da casta nos EUA.
A Pinot Noir é uma uva peculiar: inútil tentar argumentar o contrário. Sua história, suas características, seus sabores e aromas formam uma constelação difícil de apreensão, talvez daí venha todo seu mistério convertido em sofisticação e elegância. E toda a fama de uva difícil só faz sentido para quem trabalhou para engarrafá-la. Uma vez que a rolha foi aberta, apreciar essa verdadeira jóia se torna uma tarefa fácil e prazerosa.
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